Dois dedos de conversa...
Do alto de cada uma das tuas colinas,
Lisboa,
Caem sonhos, futuros incertos,
Passados que o tempo não apaga,
Vidas que a água não lava,
Manta por Clepsidra estragada és,
Lisboa...
Não te vejo passado, nem presente,
Nem futuro, amiga...
Vejo-te dentro de uma única estória
Tecida pelo mais puro fio de oiro
Pelas mais habilidosas mãos
Nos meandros do Mundo.
Foste tecida com as vitórias de Roma
Com os amores de Veneza
Com a arte de Florença, a ciência Francesa
E fiadas e fiadas de sonhos.
Teceram-te lendas
Mouras encantadas chorando nas ruínas
Da cidade muçulmana que foste
Campos de alfaces que
Te mataram a fome, Lisboa.
Cheiras a sangue heróico
(Mais, estás impregnada dele)
Até parece que, se fechar os olhos
e me deixar cair, cair, cair, cair
No âmago da tua história
Consigo ouvir nas pedras o roçar dos gumes
Afiados na carne fresca
Espadas batem e rebatem
Espadas que te conquistaram.
"Viva El-Rei D. Afonso Henriques!"
Ouço, junto à quieta estátua
No castelo altaneiro
Consagrado a S.Jorge
Que, como tu Lisboa,
Venceu o dragão (inglês)
Até pareces um palco
Onde se representa um épico
Personagens que partiram e voltam heróis
Personagens que partiram e não regressaram
Personagens que vagueiam, sós...
Mas espera! Ouço os sinos da Sé!
Uma, duas, três, quatro,...doze badaladas
É meio-dia, pardo e lento
Como os lagartos a aquecer ao sol.
A velha Sé, austera como sempre
Cada grão, sua história
Cavaleiros, mouras, amores desencontrados
Heróis criados, reis coroados
E mais outros tantos ainda por encontrar.
Caminho, pelas tuas vielas,
Onde o povo sempre soube lutar
Força da terra nunca lhes faltou
E houve sempre alguém, por mais espaçado
Que o tempo parecesse, para os liderar.
E os cafés! Ah, os cafés e os botequins
Onde revoluções se preparavam no mais absoluto silêncio...
E almas criativas conquistavam a imortalidade
Lançando palavras sentidas a despique
Divertindo, enfurecendo, emocionando gerações...
Repara no Nicola, ainda lá vive
O espírito do Casanova português
Cujos sonetos e piadas jorravam para fora da sua boca
Da mesma maneira que o vinho jorra para dentro de
Um bêbado qualquer.
É Bocage que lá vive
O homem dos mil amores.
E sentado, no Martinho da Arcada
Estão cinco homens onde só vemos um
Cinco esses, às vezes mais,
Mas veremos sempre um.
Pequeno, atarracado, perturbado por Calíope
Que lhe fez pensador, quando lhe doía
Que não sabia viver no seu tempo
Pessoa era, mas só de nome.
Também no Tavares, nobre restaurante
Que se te faltar a atenção não o vês
Vive um nobre revolucionário
E as suas personagens
Eça de nome, Queirós de apelido
E uma imaginação imensa.
Estes poetas, Estes escritores,
São apenas uma amostra
Porque a tua criação, Lisboa
Assombra o mais erudito dos eruditos
Hà tantas histórias e estórias em ti
Que nem sei
Nem tu sabes
Por onde começar.
Vejo o Nobre Chiado à minha frente
Ao lado a Baixa, sua irmã
Pais da madeira dos palcos
Das cortinas vermelhas
Do rouge das caras
E dos holofotes.
Pais dos seres humanos de mil caras
De mil nomes, mil emoções
De mil sentimentos.
Um dia reis, outro dia doutores
Outro dia o mais pobre dos mendigos
Outro dia o mais pobre dos Homens.
Tiveste de tudo um pouco
Galãs, divas,
Comédias e tragédias a despique...
Pouco dinheiro...
Cadeiras vazias...
Mas sem vacilar avanças
Por entre os Vicentes, os Saramago
E os Sttau Monteiro.
Porque Portugal tem magia e heróis de sobra
Para alimentar o pó de palco
Até à eternidade e mais além...
E até no teatro
Heróis tiveste, Lisboa
Que te encham as medidas de memória
Porque se um português só cai
Com a bala cravada no corpo
Mas o último tiro da sua no inimigo
Lisboa só se considerará conquistada
Na última pedra marcada
Só, na última.
Tivemos o nosso Viegas, Mário
Cujo amor à madeira que ressoava
Ao som de cada aplauso era
Amor Shakespereano
Que recitava poemas como quem
Segurava um diamante nas mãos
(Aí não estava, mas em todo ele
Pessoas assim são jóias)
Viegas da expressividade, do ardor
Mário Viegas que a clepsidra apagou
Cedo demais.
Tivemos os nosso revolucionários
O Estado novo raiava e continuavam
Sttau Monteiro à proa
S.Julião da Barra a arder
E ainda continuavam a gritar:
"Felizmente, felizmente há luar!"
Não há como parar o movimento perpétuo
Em que vives Lisboa
Alimentas-te continuamente
Da sede dos Homens
Que em ti, amiga,
Vêm beber do cálice das Musas
Logras-te chegar mais longe
Pediste graça divina
E na Sra. da Graça
Sobes mais alto
Só para te admirares Lisboa
Quão vaidosa, quão vaidosa és...
Desces o Ouro e a Prata
Viras para a Augusta
E no fim, voltas a afirmar
Sobre o arco que a tua gente construiu
Que és nobre como Roma
E o triunfo que demonstras
É justo e teu
Conquistaste-o.
Á tua frente estende-se o Terreiro do Paço
Ao centro D.José parece indicar o caminho do mar
E respiras a reis, ministros e intrigas
Neste local onde o Paço houve
Até se ouvir gritar: "República!"
Seja um rei ou rainha
(Alguém da velha guarda)
Seja presidente ou general
Seja quem for, Lisboa
Sempre tiveste líder
Sempre foste líder
Nobre Lisboa
Foste poder, és poder e serás poder
Poder para gerir um país
Poder para ser líder de um país
Poder para seres forte, corajosa
E com os olhos cravados no rio
Vejo o teu apogeu
A Lisboa do mar, das Caravelas
A Navegar, navegar, navegar
A dar novos mundos ao Mundo
A dar ilhas e mares
E terras e lares
E culturas (aos milhares)
Destes Gamas e Álvares Cabrais
Soltaste-os no azul do mar
Esperaste luas e luas
Até que voltassem
Uns voltaram cobertos de glória
Outros tornaram-se alimento do mar
Ficaste para a história Tejo
Pelas conquistas que viste partir
Pelas conquistas que viste chegar
Pelos milhares de almas a chorar na areia
Pelas famílias desfeitas, pelas noivas por casar
Só para que fosse teu o mar...
E lavo os olhos no rio
Ouço o buzinar dos carros
Pessoas a gritar
Como se o apocalipse fosse amanhã
Sem pressa, sento-me à beira das àguas
E contemplo o teu apogeu...
Olha Lisboa, anoiteceu...
17 Comments:
Belissimo hino a Lisboa. Gostei muito de ler...
Beijo
...é Lisboa...a nossa capital:)...muito bonito este teu escrito...
Jinhossssssss
Gostei muito, linda! Lisboa também é a minha cidade.
Beijos
Está aqui Lisboa inteira... :-)
Olá,
Melhores flores
As melhores flores e
Cores espalhadas em
Manchas
Largas de caminhos
Pisoteados marcados por
Anónimos passos
Poema do livro “Múltiplos de ti” da autora Marita Ferreira
É esta a flor que vos ofereço...
Bom fim-de-semana
Beijinhos Conceição Bernardino
http://amanhecer-palavrasousadas.blogspot.com
Isto foi ler até ficar sem folego...
Parabéns, está belíssimo!
PROVA DE AMIZADE...
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>>>“Você pode ter 10 AMIGOS,
>>>Rir com 9,
>>>Conhecer 8,
>>>Conversar com 7,
>>>Festejar com 6,
>>>Se abrir com 5,
>>>Contar com 4,
>>>Chorar com 3,
>>>Precisar de 2,
>>>Só não pode esquecer de 1,
>>>EU!“
>>>Mande para os seus amigos, incluindo a pessoa que te mandou.
>>>**Se vc não receber nenhuma resposta: Cuidado! Faça mais amizades.
>>>***Se vc receber de volta 2x vc está longe de um bom começo.
>>>****Se vc receber de volta 3x vc é um bom amigo.
>>>****Se receber 4x vc é popular
Besitossssssssss
Estrela do Mar (Sandra)
que homenagem a Lisboa...parabéns!!!
volte a participar em www.luso-poemas.net
está melhor do que nunca:)
beijinhossss
Beijo. A "àgua_quente" disse tudo
"pastoreio-me" por estas palavras como se fssem bagos. de uma romã.
intensa.
____________
abraço.
Gosto da tua escrita...ès das poucas pessoas que dá valor a lisboa a nossa grande cidade. gostava que desses uma vista de olhos nos meus trablhos expostos no site poetasvezes.com o meu pseudonimo é solar
Cara Amiga Susana,
Depois de muita ausência, nesta lidesbloguistas, devido a falta de tempo e pouca colaboração do velhinho computador que lá vai tendo os seus achaques, cá a viemos visitar.
1º.- Para lhe dar os parabéns por este seu post, com Lisboa por fundo;
2º. - Para a convidar também, a visitar-nos pois temos posts novos nos nossos blogues.
3º. - Para lhe deixar aqui uma pequena prenda:
Já te vi! Já te vi. És tu!
Sai desse esconderijo! Aparece
Deixa de gritar "O Rei vai nu"
Pois assim ninguém se aquece
Lisboa sai da toca onde te meteram
Revive em todo o teu esplendor
Os que enriqueceste, emagreceram
Já ninguém te canta o sublime amor
Anda Lisboa. Canta agora comigo
Que para quem se quer bem sempre há
Lugar para uma conversa ao postigo
E um abraço a quem aparece por cá
Vem Lisboa, sai dessa toca imunda
De compadrios, silêncios e pobreza
Vem ver que a nova vida te inunda
Caminha, mesmo sem teres certeza
Um grande abraço
José António
Cara Amiga,
Regressámos! E estamos no Baleal...
Venha logo visitar-nos
Que nunca faremos mal
A quem venha procurar-nos
Nas traseiras do quintal...
Os Piratas
Susana... Que grande viagem por Lisboa!Acredita que o meu orgulho de ser alfacinha cresceu e muito com este belo poema de Lisboa! Parabéns! (aliás... não preciso de dar os parabéns porque fazes tudo perfeito):)
José António:
Neste ano de 2010, que todos possamos dar passos no caminho do discernimento, da mudança de Paradigma do “ter” para o “SER” e começarmos e conseguir ver cada Ser Humano como uma ALMA num corpo físico e não, como até aqui, como um corpo que “tem” uma alma…
Isabel:
Celebremos com gratidão os que nos deixaram em 2009.
O meu desejo para 2010 é de que tenhamos DISCERNIMENTO para distinguir o que é ESSÊNCIAL daquilo que apenas o parece, que tenhamos BONDADE a lidar com todos, inclusive connosco próprios, que tenhamos CORAGEM para respondermos aos Desafios e eventuais dificuldades que surjam, como OPORTUNIDADES de CRESCIMENTO e de SERVIÇO ao BEM COMUM e que se REALIZEM os nossos MELHORES e MAIS BELOS SONHOS!
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