terça-feira, abril 25, 2006

Filho do Vento (Parte 1)

Stéphane já não sabia por onde andava. Após seis dias de fastidiosa viagem avistava ao longe um morro belo suspenso nas nuvens de água, mesmo abaixo de um manto branco de pedra. Era a sua meta. Esse morro belo era habitado. Talvez ali pudesse obter ajuda.
Lamentava-se do seu triste fado. Francês, de casta nobre, aventurara-se pelos territórios mouros a seguir aos Pirinéus, na sua viagem iniciática. Como lhe dissera o seu pai, que mal via, que nunca tivera a condescência de lhe dispensar um carinho paternal, para governar uma terra, teria de conhecer mundo. Perdera-se pois da sua comitiva lá para os lados de Córdova, junto à grande mesquita.
Atrevessou, estafado, uma pesada arcada de dura pedra. Desmaiou.
Acordou dias depois. Um cheiro intenso a azeite entrou-lhe pelo nariz. Estava numa pequena casa. . Branca, decorada por inúmeros tapetes e véus coloridos que lhe davam um ambiente de nuvem encantada. Ouviu, do outro lado da parede, música. Não uma música qualquer, banal como aquelas que ouvia em França. Era uma música alegre, viva, como se controlasse aqueles que a ouviam, obrigando-os a dançar.
Levantou-se. Saiu do pequeno quarto onde estava em direcção ao ritmo inebriante que ouvia.
Correu a cortina. Do outro lado, ao som de algumas violas, de palmas de suor, decorria uma festa. Bailarinas, em cima de mesas de madeira, davam ares das suas graças, em movimentos compassado e frenéticos, ao som da música.
Uma vez ou outra um bailarino ganhava coragem e, juntando-se a uma bailarina, teciam juntos uma história de amor e ódio em movimentos, ora juntos e ternos, ora distantes e magoados.
De súbito uma das bailarinas parou, e dirigiu-se a Stéphane, que ainda cambaleando, ainda estava à entrada.
- Haveis acordado forasteiro. Folgo em sabê-lo. Vinde, comei um pouco que precisais. - duas palmas, um grito solto e todos a ouviam - Parabéns pois curandeiros, o forasteiro acordou. Bom trabalho!
Vinte, trinte caras viraram-se de súbito para ele. Foi levado por uns para junto de uma mesa onde lhe serviram de comer. As perguntas, essas coisas tão inerentes à condição humana, sucederam-se.
- Quem és forasteiro? De certo tens uma identidade. - perguntou-lhe um velho.
- Sté....phane, francês, senhor. - disse balbuciando - Onde estou? Como vim aqui parar?
- Bem vindo a Sacromonte, Stéphane, comunidade cigana. - respondeu o velho - Encontrámos-te junto à entrada dos jardins do Alhambra, desmaiado.
Gentilmente, como as boas maneiras francesas lhe tinham ensinado, agradeceu o trabalhado que havia sido feito por ele.
- Quem sois vós? - perguntou timidamente
- Os meus... isto é...a gente desta tribo chama-me de Sangue de Lua - respondeu-lhe o velho, alegre mas atrapalhado - Sou o chefe da Tribo da Lua.
Aquela noite foi um descanso para Stéphane. E daí em dainte passou a viver com a tribo, na casa de Sangue de Lua. Aprendeu a dançar a bela dança que viu naquela noite, que agora sabia tratar-se de Flamenco. Aliás, tornou-se num tão belo dançarino de flamenco que os seus colegas diziam que ele devia ter algum sabgue cigano a correr-lhe nas veias. Passou a trabalhar com o grupo de entretenimento que todas as semanas subia até ao Alhambra, local onde vivia o rei de Granada, onde estava Sacromonte, para entreter a alta nobreza que lá vivia.

(continua - alguém quer dar sugestões ou tentar adivinhar como a história vai continuar?)

12 Comments:

At abril 25, 2006 10:51 da tarde, Blogger Unknown divagou...

Boa noite, Pastora de Estrelas! Não sei como acabará o teu conto...e prefiro mesmo aguardar pelo teu post de continuação. Quero para já, nesta minha primeira viagem até ao teu campo de estrelas, felicitar-te pelo teu pastorado, melhor dizendo, pelos teus textos e demais posts. É bonito ver alguém escrever assim e nota-se o teu enorme prazer na escrita! Continua e não deixes que tal prazer se perca por aí! E lembra sempre:

"Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança."

Rómulo de Carvalho/António Gedeão, In Movimento Perpétuo, 1956

 
At abril 26, 2006 3:04 da manhã, Blogger isabel mendes ferreira divagou...

oh pastorinha de estrelas brilhantes....eu não me atrevo...espero a tua imaginação...:) nobre....:)


beijo.


isa.

 
At abril 26, 2006 3:51 da manhã, Blogger antonior divagou...

Olá, minha amiga Pastorinha...
Quero que o sonho (?) de Stéphane beba todo o teu talento e imaginação e saia de ti, para terminar, com tanta beleza como começou...

Beijinhos

 
At abril 26, 2006 12:01 da tarde, Blogger Dra. Laura Alho divagou...

Sugestões não... Prefiro que sejas tu a surpreender-nos mais uma vez ;) *

 
At abril 27, 2006 8:00 da tarde, Anonymous Anónimo divagou...

Eu alinho no mesmo estratagema que todos os outros.
Espero para ver o que sai dessa brilhante fábrica de histórias.
AAhhhhh!!!! como não me conheces de lado algum, aproveita e vem ver a 'Arte' que exponho no meu território.

Beijocas e inté.

 
At abril 28, 2006 6:37 da tarde, Blogger Daniel Aladiah divagou...

Querida Susana
Vou deixar discorrer a tua imaginação... o romance histórico está na moda :)
Um beijo
Daniel

 
At maio 02, 2006 1:39 da manhã, Blogger GNM divagou...

Estou curioso com o resto da estória.
És novita, mas a tua escrita apresenta uma enorme
maturidade.

Força!

 
At maio 02, 2006 11:48 da tarde, Anonymous Anónimo divagou...

boa história...olha tentei adicionar-te no msn mas não aceitas.te.

 
At maio 05, 2006 3:25 da tarde, Anonymous Anónimo divagou...

Admirei muito seu espaço!!!...
Desejo alegre e feliz fim-de-semana.
- Abraço de:
- ConchitaMachado -

 
At maio 05, 2006 11:17 da tarde, Anonymous Anónimo divagou...

Um pouco farto da vida agradável que levava em Alhambra, Stéphane sonhava novamente em viajar. Pensou em locais que ouvira falar das gentes que por lá passavam e decidiu dar um novo rumo à sua vida.
Sintra era agora cada vez mais uma realidade para ele.

Beijocas e inté.

 
At maio 06, 2006 8:16 da manhã, Blogger Isabel José António divagou...

Ainda não era ali que encontraria aquilo que procurava. Era agradável dançar, estar entre gente que o bem tratava. Mas o seu sentido de busca, de indagação, de descoberta ainda não estava satisfeito.

Sentia-se agora preparado para ontinuar. O problema era, para onde? Que caminho.

Num dia, aconteceu algo insólito! Estava sentado, calmamente, quando um pequeno pássaro preto e azul veio pousar inadvertidamente sobre o seu ombro. "Uma ave selvagem pousa em mim - cogitou "

E ouviu (ou sonhou) que a ave lhe segredava: Procura ainda mais! Sobre ao alto duma montanha! Lá a visão é mais alta e abrangente! Descobrirás algo que te poderá mudar a compreensão da vida e das coisas.

A ave levantou voo! Ficou pensativo.
- Que quererá isto significar?

(Aqui deixo a minha possívelpequena contribuição para a tua história)

Um bom fim de semana

José António

 
At maio 11, 2006 9:32 da manhã, Blogger Isa e Luis divagou...

Olá,

vim através do site poemas de amor:))

Gostei muito do que li, a imaginação vai além da realidade.

Espero pela continuação.

Beijinhos

Isa

 

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