sexta-feira, outubro 20, 2006

Os sons, As cores e a Cidade

Lisboa Triste\Lisboa Escura

É noite cerrada.
Não, não, é meia noite mesmo
E vejo-te triste cidade.

Só és luz nas docas
Onde lavas os olhos no rio
E ouves um som
Ou vários.

Mas no resto...
Ah...no resto a noite
Estende sobre correntes
Pesadas, Grilhões que
Arrastas lentamente...

Pela Liberdade, Intendente,
Pelas árvores lá em cima...

Sabes amiga? Tenho medo de ti à noite.
Sinto-me pequenina...

Madrugada: Lisboa Acorda

Já o céu,
Estrelado céu,
De que tantos poetas falaram,
Se foi.

E no meio da leve névoa
Surgem os primeiros gritos da manhã
"Olha ó peixe fresquinho!"
E as chapas tremem.
"Ó freguesa, olhó peixe fresquinho!"
E as chapas tremem.
Outra vez.

Mais adiante, já não
Tão abeirado ao espelho de água
Noutro grupo de tectos
Vive um arco-íris
Também este vizinho de gritos.

"É a fruta fresquinha!"
"Olha as flores mais belas!"

E Lisboa acaba de acordar.
E o Sol dá-lhe os bons dias

Manhã! Manhã! C-O-N-F-U-S-Ã-O!

Não demora muito até
Toda Lisboa acordar.

Acordam os papás, as mamãs,
Acordam os filhos e as filhas,
Acordam os tios e as tias,
Acordam os deput...
(Não! Não, esses, se quiserem,
Não acordam, por agora...)

E Lisboa de manhã são carros!
Carros, carrinhos, carrões,
Motas, lambretas....barulho!

Até que, horas depois,
O barulho se afoga nos prédios...

É Lisboa que trabalha
É Lisboa que ralha
É Lisboa que...

Horas pardas\O sol já vai alto

Lisboa, a Lisboa da rua
Voltou a recolher após
O manjar dos deuses ou dos pobres
Com o sol como vigia

Volta ao sossego do trabalho
(Ou será desassossego?)
Nas ruas vagabundeiam
Os vagabundos das letras, das tintas
Ou das emoções
Ou do dinheiro mesmo.

É aqui que Lisboa
Ganha as cores do rio
E as cores dos tempos
E das épocas
E das pessoas
Que por ela passaram...

Ganha as cores da História
As cores da...
da.....
....Memória.

E a Luz esvai-se na beira do Tejo

E retorna a confusão!
Sai meia cidade do trabalho!
Sai outra meia a seguir!

Actividades de tempos livres,
Música,
Desporto,
Línguas,
Cultura,
E....volta ao refúgio, meia volta e
Manjar.

Depois estaca tudo
Bonecos à frente de caixas luminosas

Ninguém fala
Mas alguns gritam "GOOOOOLOOOO"

E as horas adormecem

E o rio adormece
Adormecem as plantas
Adormecem os animais
(ZZZZZZZ.......)
Adormece a cidade

"Meninos! Cama!"
Dizem algumas mães,
Alguns pais, Alguns avós...
"Boa Noite, durmam bem."

E a cidade adormece
Na branca névoa dos candeeiros
Na calma do silêncio

Boa noite, cidade minha

Mas...
Mas...

Os grilhões e as correntes
Ressoam de novo no asfalto
Lisboa não! Não sejas vadia!
Metes-me medo assim.....escura....